Personal trainer hétero intima gays a se defenderem de agressões

Uma conversa de homem para homem (inclusive os homens homossexuais)*

Faz tempo que eu queria escrever este artigo. Mas, antes disso, tive que fazer o meu dever de casa. Nas últimas semanas fiz a pé, sozinho e à noite, todos os trajetos dos locais próximos aos recentes ataques a homossexuais que têm acontecido em São Paulo. Não vou falar de currículo ou de teoria. Vou falar da minha prática, comprovada às mais duras penas e aprendida após décadas estudando as várias formas da agressão humana e as várias formas de combatê-la.

Quero falar de homem para homem. Pouco me interessa a sua orientação sexual. Também não vou perder tempo dando lições de antropologia, citando vários exemplos históricos de grandes líderes militares gays e de exércitos que eram formados por homossexuais. Nada disso é necessário, pois a única coisa que importa e que quero transmitir aqui é como homens podem se defender de outros homens que os atacam por razões ideológicas (ou simplesmente porque sabem que vão ganhar facilmente).

Protestando, se expondo e acionando a mídia, os homossexuais estão dando grandes exemplos de união após os ataques. Mas eles não estão fazendo o mais importante: reagir na hora da verdade. “A hora da verdade” são palavras que tenho tatuadas nas minhas costas por acreditar que esta expressão é a substância de que são feitos os momentos cruciais da nossa vida - os únicos que importam. A consciência da “hora da verdade”, combinada à atitude e ao conhecimento e somada a alguma sorte, pode nos ajudar a preservar as nossas vidas.

Em outras palavras, os homossexuais precisam aprender a agir na hora da verdade. É inaceitável que alguns membros de uma gangue entrem em uma parada gay com milhares de homossexuais e matem um membro da comunidade sem que ninguém reaja ou o ajude. Esta vítima morreu em segundos depois de ser atingida e espancada já desacordada. Seria praticamente impossível para qualquer força policial se deslocar no meio da massa e ajudá-la a tempo. Mas garanto que, se os membros da comunidade tivessem se unido e reagido na hora da verdade, teriam salvado a vida deste homem – mesmo apanhando. A mesma coisa vale para os rapazes que viram o seu amigo ser atingido no rosto com uma lâmpada fluorescente em plena Avenida Paulista e não fizeram absolutamente nada. Eles deveriam ter ido para cima dos agressores, independentemente de terem ou não conhecimentos de defesa pessoal. 



Não estou falando isso à toa: minha mulher, que não possui qualquer expertise neste assunto, entrou na linha de fogo quando percebeu que um assaltante iria atirar na minha cabeça. Totalmente surpreendido, ele não disparou na “mulherzinha”. E é graças a ela que eu estou vivo - e ele preso. O ponto crucial a que quero chegar é o seguinte: mesmo sem treinamento, tamanha era a convicção dela de que o que estava acontecendo naquele momento era errado, que ela estava disposta a morrer por isso. E foi exatamente por isso que ninguém morreu.

Já ouvi uma pessoa indignada com as recentes agressões a homossexuais dizer à mídia que os gays não são de briga e que os grupos intolerantes já chegam dispostos a brigar e preparados para isso. Bem, esta pessoa matou a charada. É exatamente isso o que estou propondo: a única maneira de nos defendermos em casos de brigas contra gangues é através da formação de uma organização disposta a defender os seus membros com as suas próprias vidas.

Não pretendo de forma alguma defender aqui os grupos comumente chamados de “grupos de ódio”, mas é fato que o ódio é uma das mais fortes energias existentes dentro do homem., e um poderosíssimo combustível para o ataque. Perdedores de batalhas, por sua vez, não raro passam o resto das suas vidas corroídos pelo ódio. Uma coisa é certa: tanto o agressor quanto a vítima vão sentir ódio em algum momento. Os homofóbicos (ou qualquer outra organização que se alimente da convicção nas suas ideologias) que vêm atacando os gays têm não apenas a força do grupo a seu favor, mas também o poder individual de que se reveste toda pessoa disposta a ficar inválida, a ir presa, a matar e até a morrer pelo que acredita. Mesmo que esta crença seja puro ódio e nada mais.

O que temos visto pelas ruas de São Paulo são sem dúvida casos revoltantes de injustiça E o ódio à injustiça, quando bem focado e aplicado na hora certa, é uma ferramenta de grande utilidade. É isto o que estou sugerindo aos gays. Unam-se! Acreditem que o que está acontecendo com vocês é errado. Revoltem-se! Entendam as leis da legítima defesa e reajam imediatamente a ataques violentos e injustos. Utilizem a violência necessária até que as autoridades policiais possam ser acionadas e chegar ao local da agressão.

Já tive a oportunidade de ver em outros lugares do mundo gays que fariam os seus inimigos perecer violenta e rapidamente caso fossem atacados. Não adianta chorar o sangue derramado. Não adianta apenas criminalizar a homofobia. Não adianta lutar pela aplicação de penas com agravantes após a morte dos seus amigos e amores – ou da sua mesmo. A única coisa que importa na hora da verdade é a nossa sobrevivência. E, para isso, é necessária a atitude correta - e, idealmente, o treinamento. Não estamos falando aqui dos assaltos nos quais a polícia, muito corretamente, aconselha as vítimas a entregarem o carro ou outros pertences sem resistência, visto que não devemos arriscar a vida por causa de posses materiais.

Estamos falando de ataques cuja única e finalidade é a violência. Ataques que podem comprometer a sua integridade física ou mesmo acabar com a sua vida - gratuitamente. Como eu disse no inicio, esta conversa é de homem para homem. E, na minha opinião, para ser homem (gay ou não), você precisa acreditar em uma causa e estar disposto e viver e morrer por ela.

É preciso que os gays entendam que não há nada de errado em se revoltar fortemente contra uma situação de injustiça. A primeira coisa a ser feita durante uma agressão é se preparar para se defender de um ataque. A segunda é entender e se preparar para os efeitos debilitantes causados pela descarga de adrenalina e aprender a reagir eficiente e imediatamente com estratégias e técnicas que funcionem na hora da verdade. A terceira coisa a se aprender é a união em defesa dos seus semelhantes durante este tipo de ataque. Esta união é, para mim, um dever de todo cidadão (gay ou não), que deve defender qualquer pessoa (gay ou não) que esteja sendo vítima de um crime. Não é por acaso que o Código Penal nos dá este direito em seu artigo 25:

“Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.”

Resumindo: ou você busca o poder de escolher qual será o seu destino, ou você ficará a mercê da sorte e do acaso. Ponto inicial e ponto final.

*Luciano da Silveira é autor do DVD “A Hora da Verdade - como Sobreviver a uma Briga de Rua, Física, Mental e Legalmente”. Ele é personal trainer, instrutor de defesa pessoal e proprietário do Clinifit Fitness Studio (www.clinifit.com), em São Paulo. 



fonte: Mixbrasil




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